RESUMO
APRESENTAÇÃO, por Italo Moriconi
A apresentação começa com uma breve descrição do livro de Francine Prose. O autor da apresentação, Italo Moriconi, destaca que o livro é uma viagem visceral por obras-primas da literatura, que ensina a ler com atenção, a extrair lições de grandes escritores e a desenvolver a sensibilidade e a técnica literárias.
Em seguida, o autor situa o livro de Francine Prose no contexto cultural e acadêmico dos Estados Unidos e do Brasil, comparando e contrastando as diferenças entre os dois países em relação ao mercado editorial, à formação de escritores e leitores, aos cursos de criação literária e à crítica literária. Ele aponta as vantagens e desvantagens dos modelos anglo-saxônico e brasileiro, e ressalta a importância de se ampliar as possibilidades de aprendizagem e diálogo entre as duas culturas.
Também faz referência a alguns antecedentes e contemporâneos do livro de Francine Prose, como Aspects of the Novel, de E.M. Forster, e as obras de Harold Bloom. Ele mostra como o livro de Francine Prose se diferencia desses autores, tanto pela abordagem mais prática e menos teórica, quanto pela escolha mais pessoal e menos canônica dos exemplos literários. Ele também elogia a flexibilidade e a liberdade que o livro de Francine Prose oferece ao leitor, sem impor regras ou dogmas sobre a escrita.
Por fim, o autor da apresentação apresenta a estrutura e o conteúdo do livro de Francine Prose, que é dividido em onze capítulos, cada um dedicado a um aspecto da escrita, como palavras, frases, parágrafos, narração, personagem, diálogo, detalhes, gesto, etc. Ele explica que o livro é baseado na análise de trechos de obras de diversos autores, que servem como exemplos e modelos para o leitor. Também destaca que o livro é escrito a partir da experiência pessoal da autora como escritora e professora de criação literária, o que confere ao texto um tom ao mesmo tempo ensaístico e memorialístico.
O capítulo 1 tem como objetivo apresentar a importância da leitura atenta como uma forma de aprender a escrever e de apreciar a literatura. A autora defende que os escritores se inspiram e se instruem pelos livros que admiram e que os leitores devem prestar atenção à linguagem, ao estilo, à estrutura e aos efeitos que os autores empregam em suas obras.
Francine narra sua própria trajetória como leitora e escritora, desde a infância até a vida adulta, destacando os momentos em que descobriu o prazer, o desafio e a utilidade da leitura atenta. Ela cita exemplos de livros e autores que a influenciaram, que a ensinaram algo sobre a arte da ficção, ou que a ajudaram a superar dificuldades em seu próprio trabalho. Também relata sua experiência como professora de escrita criativa e de literatura, e como mudou sua metodologia de ensino para enfatizar a leitura palavra por palavra, frase por frase, dos textos literários.
A seguir, Francine Prose critica a forma como a teoria literária acadêmica, especialmente a partir da década de 1980, se afastou da apreciação da literatura como arte e passou a se concentrar em questões políticas, ideológicas e contextuais, ignorando ou desvalorizando a linguagem, a forma e a imaginação dos escritores. Ela afirma que essa abordagem torna a leitura estressante, desprazerosa e limitada e que prejudica a formação dos escritores e dos leitores qualificados. Ela defende que a leitura atenta, que se baseia na análise do texto em si, sem preconceitos ou agendas, é mais adequada para revelar a beleza, a complexidade e a diversidade da literatura.
Ao fim do capítulo, a autora encerra-o com algumas sugestões para os leitores que desejam praticar a leitura atenta e melhorar sua compreensão e seu gosto pela literatura. Recomenda que os leitores leiam com uma caneta na mão, sublinhando, anotando, questionando e comentando o texto. Ela também sugere que releiam os livros que gostaram, para descobrir novos aspectos, sentidos e efeitos que não haviam percebido antes. Francine ainda aconselha que leiam com curiosidade, abertura e humildade, reconhecendo o valor e a originalidade dos escritores, e evitando julgamentos apressados ou comparativos. Por fim, ela afirma que os leitores devem ler por prazer, por amor à linguagem e à literatura, e não por obrigação ou por pressão externa.
O capítulo 2 trata da importância da escolha das palavras na construção de um texto literário. A autora defende que as palavras são os elementos básicos da ficção e que cada uma delas deve ser cuidadosamente selecionada para transmitir o sentido, o tom e o ritmo desejados pelo escritor. Ela ilustra sua argumentação com exemplos de obras de autores consagrados, como Flaubert, Joyce, Nabokov, Orwell, entre outros, mostrando como eles usam as palavras de forma precisa, criativa e expressiva. Também alerta para os perigos de usar palavras vagas, clichês, jargões, modismos e eufemismos, que podem comprometer a qualidade e a originalidade do texto. Além disso, Francine sugere alguns exercícios práticos para os leitores que querem se tornar escritores, como copiar trechos de seus autores favoritos, ampliar ou reduzir o vocabulário de um texto, e observar as palavras que usam no dia a dia.
A autora afirma que as palavras devem ser escolhidas com base no seu significado exato, e não no seu som ou na sua aparência. Ela cita o exemplo de Flaubert, que passava horas procurando a palavra certa para cada frase, e de Orwell, que criticava o uso de palavras imprecisas que obscureciam o pensamento.
Francine Prose discute como as palavras podem criar uma ilusão de realidade ou de ficção, dependendo de como elas se relacionam com as coisas que nomeiam. Ela destaca o caso de Nabokov, que usava as palavras para criar um mundo imaginário, cheio de detalhes e cores, e o contrapõe ao de Hemingway, que usava as palavras para descrever um mundo concreto, com simplicidade e objetividade.
A autora ressalta ainda que as palavras também têm um valor sonoro, que pode influenciar o ritmo, a melodia e a harmonia do texto. Ela exemplifica com o caso de Joyce, que usava as palavras para criar efeitos de som, como aliterações, assonâncias, rimas e onomatopeias, e o de Faulkner, que usava as palavras para criar uma cadência própria, que imitava a fala dos personagens.
Por fim, a escritora observa que as palavras estão em constante mudança, e que os escritores devem estar atentos às transformações que elas sofrem ao longo do tempo e do espaço. Ela menciona o exemplo de Shakespeare, que inventou muitas palavras novas, e o de Twain, que usou as palavras para retratar as diferenças regionais e sociais da língua inglesa.
CAPÍTULO 3 - FRASES
O capítulo 3 aborda o tema das frases, que são os elementos básicos da prosa. A autora explora como os grandes escritores usam as frases para criar efeitos diversos, como ritmo, humor, tensão, emoção, clareza e beleza. Ela analisa exemplos de frases curtas e longas, simples e complexas, diretas e indiretas, e mostra como elas contribuem para a voz e o estilo do autor. Também oferece dicas e exercícios para os leitores que querem melhorar suas próprias frases, como ler em voz alta, prestar atenção à pontuação, variar a estrutura e o vocabulário, e evitar os clichês e os vícios de linguagem.
As frases são as unidades de significado da prosa, e devem ser lidas com atenção e apreciação, tanto pelo prazer estético quanto pelo aprendizado técnico.
Elas podem ser classificadas de acordo com seu comprimento, sua forma, sua função, seu tom e seu propósito. Cada tipo de frase tem suas vantagens e desvantagens, e deve ser usado de acordo com o efeito desejado pelo autor.
As frases curtas são eficazes para criar impacto, urgência, simplicidade e precisão. Podem ser usadas para destacar uma ideia, um fato, um sentimento ou uma ação. Elas também podem ser usadas para criar contraste ou quebrar a monotonia de frases longas. As frases longas são eficazes para criar fluxo, complexidade, nuance e riqueza. Podem ser usadas para desenvolver uma ideia, um argumento, uma descrição ou uma narração. Elas também podem ser usadas para criar ritmo, harmonia ou suspense.
As frases simples são aquelas que têm apenas um sujeito e um predicado, e expressam uma ideia completa. São claras, diretas e fáceis de entender. Elas podem ser usadas para afirmar, negar, perguntar ou ordenar algo. Já as complexas são aquelas que têm mais de um sujeito e/ou predicado, e expressam uma ideia principal e uma ou mais ideias secundárias. Elas são mais elaboradas, indiretas e difíceis de entender. Elas podem ser usadas para explicar, comparar, contrastar, condicionar ou subordinar algo.
As frases diretas são aquelas que usam a ordem natural dos termos, que é sujeito + predicado + complementos. Elas são mais comuns, naturais e lógicas. Podem ser usadas para transmitir informação, objetividade e confiança. Por outro lado, as frases indiretas são aquelas que usam a ordem inversa ou alterada dos termos, que é predicado + sujeito + complementos, ou qualquer outra variação. Elas são mais raras, artificiais e surpreendentes. Podem ser usadas para enfatizar, dramatizar, ironizar ou questionar algo.
O tom das frases é a atitude ou o sentimento que elas transmitem, que pode ser positivo ou negativo, formal ou informal, sério ou humorístico, etc. O tom depende da escolha das palavras, da pontuação, da entonação e do contexto. Esse aspecto pode influenciar o humor, a emoção, a opinião e a reação do leitor.
Por fim, o propósito das frases é a intenção ou o objetivo que elas têm, que pode ser informar, persuadir, entreter, emocionar, etc. Depende do gênero, do público, do tema e da mensagem do texto. O propósito pode determinar a estrutura, o conteúdo, o estilo e a eficácia do texto.
CAPÍTULO 4 - PARÁGRAFOS
A autora começa o capítulo 4 explicando como os parágrafos são essenciais para a estrutura e o ritmo de um texto, e como eles podem criar efeitos variados de acordo com o seu tamanho, forma e conteúdo. Ela cita exemplos de autores que usam parágrafos longos, curtos, únicos ou múltiplos para transmitir diferentes sensações e significados ao leitor.
Francine discute as principais funções dos parágrafos, que são: introduzir, desenvolver, concluir, transitar, contrastar, enfatizar e surpreender. Ela mostra como cada função pode ser realizada de maneiras diferentes, dependendo do estilo e da intenção do escritor. Também destaca a importância de manter a unidade e a coerência dos parágrafos, evitando desvios ou repetições desnecessárias.
Além disso, a autora analisa os elementos que compõem um parágrafo, como a frase-tópico, as frases de apoio, as frases de transição e a frase-conclusão. Ela explica como esses elementos podem ser organizados de forma indutiva ou dedutiva, e como eles podem ser conectados por meio de palavras-chave, pronomes, sinônimos, conjunções e pontuação. Também dá dicas de como variar o comprimento e a estrutura das frases para evitar a monotonia e aumentar o interesse do leitor.
Por fim, a escritora encerra o capítulo dando algumas orientações de como revisar os parágrafos, buscando melhorar a clareza, a precisão, a concisão, a fluência e a originalidade do texto. Sugere que o escritor se coloque no lugar do leitor, verifique se os parágrafos estão bem organizados, se eles cumprem as suas funções, se eles estão ligados entre si, se eles usam as palavras adequadas e se eles expressam a voz e o propósito do escritor. Ela também recomenda que o escritor peça a opinião de outras pessoas, leia o texto em voz alta e faça as alterações necessárias.
CAPÍTULO 5 - NARRAÇÃO
A autora define narração como a arte de contar uma história, de escolher o que mostrar e o que omitir, de controlar o ritmo e o tom, de criar uma voz que conduza o leitor pelo texto. Ela afirma que a narração é uma questão de escolhas, e que cada escolha tem consequências para a forma e o significado da obra.
Francine discute os diferentes tipos de narradores que um escritor pode usar, como o narrador onisciente, o narrador limitado, o narrador em primeira pessoa, o narrador não confiável, o narrador coletivo, o narrador intruso, entre outros. Explica as vantagens e desvantagens de cada um, e como eles afetam a relação entre o escritor, o narrador, os personagens e o leitor.
A escritora analisa vários exemplos de narração de obras de autores consagrados, como Jane Austen, Gustave Flaubert, Leo Tolstoy, Anton Chekhov, Ernest Hemingway, Virginia Woolf, Gabriel García Márquez, entre outros. Ela mostra como eles usam a narração para criar efeitos diversos, como ironia, humor, suspense, emoção, crítica, reflexão, etc. Também destaca as técnicas que eles empregam, como o ponto de vista, o foco narrativo, o discurso direto e indireto, o fluxo de consciência, a analepse e a prolepse, etc.
Por fim, a autora oferece alguns conselhos para escritores que querem melhorar sua narração, como ler atentamente os mestres da narrativa, experimentar diferentes tipos de narradores, observar os detalhes da vida real, evitar clichês e redundâncias, variar o ritmo e a estrutura das frases, usar a narração para revelar o caráter dos personagens, e acima de tudo, ser fiel à sua própria voz e visão.
CAPÍTULO 6 - PERSONAGEM
O capítulo 6 fala acerca do tema do personagem na ficção. A autora discute como os escritores criam personagens memoráveis, complexos e verossímeis, usando exemplos de obras clássicas e contemporâneas. A análise detalhada e aprofundada do capítulo pode ser organizada em quatro pontos principais:
- A importância da observação: Prose afirma que os escritores devem ser observadores atentos da vida real, captando os detalhes, os gestos, as falas e as contradições que revelam a personalidade e a história das pessoas. Ela cita como exemplos a descrição física e psicológica de Emma Bovary, de Flaubert, e a apresentação de Humbert Humbert, de Nabokov, que usam a observação para criar personagens críveis e convincentes.
- A função do diálogo: Francine analisa como o diálogo pode servir para caracterizar os personagens, mostrar suas relações, avançar a trama e criar tensão dramática. Destaca como os escritores usam o diálogo para revelar o que os personagens pensam, sentem, querem e escondem, sem recorrer a explicações ou comentários do narrador. Ela exemplifica com trechos de romances de Jane Austen, Henry James, Ernest Hemingway e Raymond Carver, que mostram a habilidade de criar diálogos naturais, expressivos e significativos.
- A escolha do ponto de vista: a autora explora como o ponto de vista pode influenciar a forma como os personagens são retratados e percebidos pelo leitor. Compara as vantagens e desvantagens de usar a primeira ou a terceira pessoa, a narração onisciente ou limitada, a perspectiva única ou múltipla. Ela ilustra com passagens de romances de Leo Tolstoy, Virginia Woolf, William Faulkner e Philip Roth, que demonstram a variedade e a complexidade de escolher um ponto de vista adequado para a história e os personagens.
- A construção do arco narrativo: Prose examina como os personagens se desenvolvem ao longo da narrativa, sofrendo mudanças, conflitos, crises e transformações. Ressalta como os escritores criam o arco narrativo dos personagens, fazendo-os evoluir de forma coerente, surpreendente e emocionante. Ela exemplifica com fragmentos de romances de Gustave Flaubert, Charles Dickens, Edith Wharton e J.D. Salinger, que mostram como os personagens crescem, amadurecem, se arrependem ou se redimem ao longo da ficção.
CAPÍTULO 7 - DIÁLOGO
Nesta seção, a autora define o diálogo como uma forma de representar a fala dos personagens, que pode ter diversas funções na narrativa, como revelar a personalidade, o conflito, a informação, o humor, o ritmo e a tensão. Ela também discute os desafios e as técnicas de escrever um bom diálogo, como evitar a redundância, a artificialidade, a exposição forçada e o uso excessivo de marcadores e modificações.
Prose analisa alguns trechos de obras literárias que demonstram o uso eficaz e criativo do diálogo, como Madame Bovary, de Gustave Flaubert, O sol é para todos, de Harper Lee, Lolita, de Vladimir Nabokov, e O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger. Ela destaca como esses autores conseguem criar vozes distintas e memoráveis para seus personagens, transmitir subtextos e emoções, criar contraste e ironia, e avançar a trama e o tema através do diálogo.
Além disso, Francine oferece algumas sugestões e atividades práticas para os leitores que querem aprimorar suas habilidades de escrever diálogos, como ler em voz alta, observar e ouvir as pessoas falando, gravar e transcrever conversas reais, imitar o estilo de outros escritores, e revisar e editar os próprios diálogos. Ela também recomenda alguns livros e autores que são mestres no uso do diálogo, como Anton Tchekhov, Ernest Hemingway, Raymond Carver, Alice Munro, entre outros.
CAPÍTULO 8 - DETALHES
O capítulo 8 aborda a importância dos detalhes na construção de uma obra literária. A autora defende que os detalhes são essenciais para criar uma atmosfera, um cenário, um personagem, um conflito, um tema e um estilo. Ela afirma que os detalhes não são meros adornos, mas sim elementos que revelam o significado e a intenção do escritor.
Prose explica que os escritores devem selecionar os detalhes que mais contribuem para o efeito desejado, evitando os que são irrelevantes, redundantes ou falsos. Ela cita exemplos de autores como Flaubert, Chekhov, Joyce, Nabokov e Carver, que usam os detalhes com precisão e propósito, criando imagens vívidas e sugestivas.
A escritora analisa como os detalhes podem servir para diferentes funções narrativas, como caracterizar os personagens, estabelecer o tom, criar o clima, desenvolver o enredo, sugerir o simbolismo, provocar a emoção, transmitir o tema e expressar o ponto de vista. Ela mostra como os detalhes podem ser usados de forma sutil ou explícita, dependendo do efeito que o escritor quer alcançar.
Francine ainda destaca que os detalhes podem ser de diferentes tipos, como descrições físicas, gestos, diálogos, pensamentos, ações, objetos, cores, sons, cheiros, sabores, texturas, etc. Ela observa que os detalhes podem ser concretos ou abstratos, específicos ou gerais, originais ou comuns, realistas ou fantásticos, etc. Recomenda que os escritores busquem a diversidade e a originalidade dos detalhes, evitando os clichês e os estereótipos.
Prose conclui que os detalhes são uma forma de arte, que requer sensibilidade, observação, imaginação, criatividade e técnica. Ela incentiva os leitores a prestarem atenção aos detalhes nas obras que admiram, e a praticarem o uso desse aspecto em suas próprias escritas. Afirma que os detalhes são uma forma de comunicação entre o escritor e o leitor, e que podem enriquecer a experiência literária.
CAPÍTULO 9 - GESTOS
O capítulo 9 trata da importância dos gestos na construção dos personagens e da narrativa. A autora define gesto como “qualquer coisa que os personagens fazem, qualquer ação que não seja simplesmente funcional, mas que tenha um significado simbólico ou revelador”. Ela afirma que os gestos podem ser usados para caracterizar os personagens, mostrar suas emoções, criar tensão, desenvolver o enredo, sugerir temas e transmitir informações ao leitor.
Prose ilustra seu argumento com vários exemplos de obras literárias, analisando como os gestos dos personagens contribuem para o efeito estético e narrativo dos textos. Ela cita, por exemplo, o gesto de Anna Karênina de jogar a luva para Vronski, que expressa sua paixão e sua disposição de arriscar tudo por ele; o gesto de Bartleby, o escrivão, de dizer “prefiro não fazer” sempre que lhe pedem algo, que revela sua alienação e sua resistência passiva ao sistema; o gesto de Emma Bovary de morder o buquê de noiva, que antecipa sua insatisfação e sua infidelidade; o gesto de Lolita de apertar o joelho de Humbert Humbert, que mostra sua sedução e sua manipulação; o gesto de Macbeth de esfregar as mãos, que simboliza sua culpa e sua loucura; entre outros.
A autora também discute como os gestos podem ser usados para criar contraste, ironia, humor, suspense e surpresa. Destaca que os gestos devem ser escolhidos com cuidado, evitando os clichês, os excessos e as incongruências. Ela recomenda que os escritores observem os gestos das pessoas na vida real e os usem como inspiração para suas obras. Prose conclui que os gestos são uma forma poderosa de comunicação, que podem enriquecer e aprofundar a experiência literária tanto para os escritores quanto para os leitores.
CAPÍTULO 10 - APRENDER COM TCHEKHOV
O capítulo tem como objetivo mostrar como Anton Tchekhov, um dos maiores contistas da história, pode ensinar aos leitores e escritores sobre os elementos essenciais da ficção, como personagem, diálogo, detalhe, gesto, humor e emoção. A autora usa vários exemplos dos contos do russo para ilustrar seus pontos e demonstrar sua admiração pelo mestre russo.
O capítulo é dividido em nove seções, cada uma focando um aspecto da ficção que Tchekhov domina. As seções são:
- Personagem: a autora discute como Tchekhov cria personagens complexos, realistas e memoráveis, usando técnicas como a descrição física, a voz, o conflito, o contraste e a mudança.
- Diálogo: Prose analisa como o escritor russo usa o diálogo para revelar o caráter, o humor, o subtexto, a tensão e a ironia, evitando clichês, exposição e falsidade.
- Detalhe: a escritora explora como Anton Tchekhov seleciona os detalhes mais significativos e sensoriais para criar uma atmosfera, um cenário, um clima e uma impressão, sem sobrecarregar o leitor com informações desnecessárias ou irrelevantes.
- Gesto: Francine examina como o contista emprega gestos simples, mas expressivos, para mostrar as emoções, as intenções, as relações e as personalidades dos personagens, sem recorrer a explicações ou generalizações.
- Humor: a autora observa como Tchekhov usa o humor para suavizar a tragédia, para criticar a sociedade, para humanizar os personagens e para envolver o leitor, sem perder a seriedade ou a profundidade de seu tema.
- Emoção: Prose avalia como o escritor russo evoca emoções fortes e autênticas no leitor, sem manipular, sentimentalizar ou melodramatizar, usando recursos como a surpresa, a ambiguidade, a sutileza e a compaixão.
- Economia: a escritora elogia como Anton Tchekhov consegue contar histórias ricas e completas em poucas páginas, sem desperdiçar palavras, frases ou cenas, usando a síntese, a sugestão, a omissão e a precisão.
- Originalidade: Francine celebra como o contista inova e renova a forma do conto, sem seguir fórmulas, convenções ou expectativas, usando a experimentação, a variedade, a ousadia e a criatividade.
- Influência: Francine Prose reconhece como o escritor Anton Tchekhov influenciou e inspirou gerações de escritores, sem impor seu estilo, sua visão ou sua moral, usando a generosidade, a modéstia, a honestidade e a sabedoria.
O capítulo termina com a autora expressando sua gratidão a Tchekhov e sua admiração por ele, que a ensinou a ler e a escrever como uma escritora, e convida o leitor a ler ou reler os contos do autor russo, pois são “lições de vida e de arte”.
CAPÍTULO 11 - LER EM BUSCA DE CORAGEM
O capítulo 11 fala sobre como a leitura pode nos inspirar a ter coragem para escrever e enfrentar os desafios da vida. A autora usa exemplos de obras literárias que mostram personagens corajosos, como Anne Frank, Primo Levi, George Orwell, entre outros, e explica como eles influenciaram sua própria escrita e atitude. Ela também discute como a leitura pode nos ajudar a superar o medo da crítica, da rejeição, do fracasso e da censura, e a desenvolver uma voz autêntica e honesta. Prose defende que a leitura é uma forma de resistência e de afirmação da liberdade, e que os escritores devem ler como se sua vida dependesse disso.
A autora afirma que a leitura de obras que retratam situações extremas, como o Holocausto, a guerra, a opressão, a doença, a morte, etc., pode nos dar força e inspiração para enfrentar nossos próprios problemas e expressar nossos sentimentos e pensamentos mais profundos. Ela cita exemplos de escritores que usaram a literatura como uma forma de sobrevivência, de testemunho, de denúncia, de consolo e de esperança.
Francine reconhece que a leitura de obras-primas pode nos intimidar e nos fazer sentir inferiores, mas também nos estimular a melhorar nossa escrita e a buscar nossa originalidade. Ela sugere que devemos ler com humildade, mas também com confiança, e que devemos aprender com os grandes escritores, mas não imitá-los ou copiá-los. Também aconselha que devemos ler com curiosidade, com espírito crítico, com abertura e com paixão, e que devemos ler tanto os clássicos quanto os contemporâneos, tanto os consagrados quanto os desconhecidos, tanto os que concordamos quanto os que discordamos.
A escritora defende que a leitura é uma forma de resistir à conformidade, à ignorância, à manipulação, à censura e à tirania. Ela argumenta que a leitura nos permite conhecer outras realidades, outras culturas, outras perspectivas, outras possibilidades, e que isso nos torna mais conscientes, mais tolerantes, mais criativos e mais humanos. Também afirma que a leitura nos permite escapar da rotina, da monotonia, da angústia, da solidão, e que isso nos torna mais felizes, mais sonhadores, mais imaginativos e mais livres.
Francine Prose conclui o capítulo com uma citação de Kafka, que diz que um livro deve ser “o machado que quebra o mar congelado dentro de nós”.
No capítulo seguinte, a autora faz uma "lista de livros para ler imediatamente", que vai de clássicos a contemporâneos.
POSFÁCIO À MODA DA CASA, por Italo Moriconi
O autor explica que o posfácio é uma forma de complementar a apresentação que fez no início do livro, acrescentando algumas reflexões sobre os aspectos específicos da obra de Francine Prose e sua relação com a literatura brasileira. Ele também afirma que o posfácio é uma homenagem à autora e aos leitores brasileiros que se interessam pela escrita criativa.
O escritor divide o posfácio em três partes: a primeira, intitulada “A arte da ficção”, aborda os conceitos e as técnicas que Francine Prose discute em seu livro, destacando sua originalidade, sua clareza e sua utilidade para os escritores iniciantes e experientes. A segunda parte, chamada “A arte da leitura”, enfoca a importância da leitura atenta e da análise textual para o desenvolvimento da sensibilidade e do estilo literários, bem como para o prazer estético do leitor. A terceira e última parte, denominada “A arte da tradução”, trata dos desafios e das escolhas envolvidos na tradução do livro de Francine Prose para o português, especialmente no que se refere à adaptação dos exemplos literários citados pela autora.
O autor sustenta seus pontos de vista com base em citações do livro de Francine Prose, em comparações com outros autores e obras relevantes, em exemplos de sua própria experiência como escritor, leitor e tradutor, e em referências a autores e obras da literatura brasileira. Ele também dialoga com o leitor, fazendo perguntas, antecipando objeções, convidando à reflexão e à experimentação. Demonstra admiração e respeito pela obra de Francine Prose, mas também aponta algumas limitações e possibilidades de ampliação de seu método e de seu repertório.
Por fim, Italo oferece ao leitor brasileiro uma leitura crítica e contextualizada do livro de Francine Prose, mostrando sua relevância e sua aplicabilidade para a prática e o ensino da escrita criativa no Brasil. Ele também propõe uma lista de livros brasileiros para ler imediatamente, seguindo o modelo da autora, e sugere alguns exercícios de escrita inspirados em seu livro. O autor, assim, enriquece e atualiza a proposta de Francine Prose, aproximando-a da realidade e da cultura literárias brasileiras.
Jason Lima
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