A exclusão de mulheres do cânone literário está ligada historicamente a estruturas sociais e culturais basilares e formadoras de um povo, que confinam a mulher a uma vida doméstica, privada e lhe negam o conhecimento e a proeminência social. Na cena literária, por muito tempo pairou (e ainda paira) sobre a literatura escrita por mulheres um julgamento de imperfeição, futilidade e irrelevância. As mulheres eram (e ainda são por muitos) frequentemente compreendidas como autoras de segunda categoria. Prêmios de grande visibilidade, em geral, têm baixíssima taxa de autoras. Veja, como exemplo, que até hoje, desde a sua criação em 1901, 85,8% dos laureados com o Prêmio Nobel de Literatura são homens: apenas 17 mulheres ganharam o Prêmio (14,2% de 120 laureados no total). É verdade que vemos hoje uma (ainda vagarosa) mudança que nos deixa esperançosos de uma maior visibilidade e equidade social. É um processo lento. E Maria de Lourdes Teixeira é um exemplo desse fenômeno excludente das letras no Brasil.
Nascida em São Pedro-SP, em 23 de março de 1907, foi uma escritora premiada, com uma trajetória literária significativa, mas, ao mesmo tempo, em um processo de lamentável esquecimento e apagamento de suas obras no cânone literário brasileiro.
A autora foi romancista, jornalista, tradutora, crítica literária, ensaísta, memorialista, biógrafa e poeta. Desde a adolescência, manifestou sua paixão pela literatura com a publicação de contos. Em seu primeiro casamento, com Ermelindo Scavone, enfrentou proibições de sua produção artística, ficando por anos afastada do cenário literário após o primeiro matrimônio. O segundo casamento, com José Geraldo Vieira, marcou uma nova fase, incentivando seu retorno à literatura, explorando críticas, romances e artigos.
Entre 1961 e 1970, Maria de Lourdes conquistou o Prêmio Jabuti duas vezes, alcançando reconhecimento internacional. Tornou-se correspondente em Paris para o jornal O Estado de São Paulo, participando de missões culturais e sendo convidada a discutir literatura em diversos países. Recebeu prêmios internacionais, como o da Comissão Internacional de Psicologia Geral da Polícia Criminal de Paris.
Em 25 de junho de 1969, Maria de Lourdes foi eleita para a Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira 12 e tornando-se a primeira mulher indicada na instituição. Sua morte em 1989 não encerrou seu legado, deixando uma rica produção literária que abrange novelas, contos, romances, biografias, artigos e crítica literária. Destacam-se em sua carreira as obras premiadas Rua Augusta (1963) e O Pátio das Donzelas (1969). Seu último trabalho, A Carruagem Alada, um livro de memórias, foi lançado postumamente em 1986.
Quando será o tempo em que as escolas, a imprensa e o meio acadêmico resgatarão Maria de Lourdes Teixeira e lhe darão a visibilidade merecida?
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