No Brasil, muitos nomes proeminentes das letras enfrentam um destino antitético: o prestígio que possuíam em sua época muitas vezes desvanece com o tempo, relegando-os ao esquecimento na consciência coletiva contemporânea. Almachio Diniz Gonçalves, personagem literário que contribuiu para diversos campos, além da Literatura, como Direito e Educação, é um ilustre desconhecido atualmente.
Nascido em Salvador em 7 de maio de 1880, Almachio Diniz foi um prolífico escritor que nos legou mais de 100 obras. Ele influenciou a intelectualidade brasileira do início do século XX e movimentou uma disputa pela imortalidade na Academia Brasileira de Letras, que marcou a instituição.
Filho de Adolfo Diniz Gonçalves e Maria Rosa Guimarães Diniz Gonçalves, Almachio trilhou sua formação em Direito, tornando-se professor na Faculdade Livre de Direito da Bahia. Com especialização em filosofia jurídica, sucedeu o renomado professor Leovigildo Filgueiras, consolidando sua presença no meio acadêmico.
Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, enfrentando Afrânio Peixoto para a Cadeira 7, cujo patrono é Castro Alves, baiano como Almachio, e cuja vaga havia sido deixada pela morte de Euclides da Cunha. Essa disputa revelou rivalidades literárias e complexas dinâmicas sociais da época. A busca por reconhecimento na ABL não foi exitosa e ele perdeu a disputa com Afrânio Peixoto, que foi eleito como imortal no dia em 7 de maio de 1910.
Em 1915, tornou-se catedrático da Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, dedicando-se ao ensino do Direito Civil. Simultaneamente, participou da fundação da Faculdade Teixeira de Freitas, em Niterói, ampliando sua influência no cenário educacional.
Em 1917, tornou-se membro-fundador da Academia de Letras da Bahia, ocupando a Cadeira 37, cujo patrono é o poeta e jornalista João Batista de Castro Rebelo Júnior (1853-1912).
Eleito em 1935 para a Academia Carioca de Letras, onde ocupou a Cadeira 3, cujo patrono é o historiador e político Monsenhor Pizarro e Araújo, Almachio torna-se um dos escritores de enorme influência nos redutos literários.
Em 1935, tornou-se advogado da Aliança Nacional Libertadora (ANL), liderada por Luís Carlos Prestes. Nesse papel, enfrentou os desafios políticos da era Vargas, impetrando um mandado de segurança contra o fechamento das sedes da ANL, embora sem sucesso diante do Supremo Tribunal Federal.
Em 2 de maio de 1937, Almachio Diniz Gonçalves faleceu.
Uma obra sua mereceu atenção da Igreja. O livro A carne de Jesus (1910) descreve um relacionamento amoroso entre Jesus e Maria Madalena e de um sensual encontro entre Cristo e Cláudia, esposa de Pôncio Pilatos. Por essa obra Almachio foi excomungado em 1913. Drummond, no poema "Livraria Alves", lançado no seu livro Boitempo, assim fala de Almachio:
A trajetória de Almachio, apesar de marcante em sua época, não resistiu ao tempo. Sua obra, rica em conhecimento e reflexões, tornou-se esquecida, com muitos brasileiros contemporâneos desconhecendo quase que totalmente suas contribuições. A falta de visibilidade contemporânea para figuras como Almachio destaca a necessidade de revisitar o patrimônio literário e intelectual do Brasil. A dinâmica cultural muitas vezes prioriza o novo em detrimento do antigo e o cânone em lugar do que está periférico, levando ao apagamento gradual de nomes que, em sua época, foram relevantes e influentes. Esse fenômeno, o qual pode ser visto como uma espécie de amnésia cultural, cria um hiato na compreensão das raízes intelectuais do país.
Portanto, resgatar e celebrar a obra de figuras como Almachio Diniz Gonçalves é um ato de justiça histórica e uma oportunidade para enriquecer o entendimento contemporâneo sobre a diversidade e a profundidade da produção intelectual brasileira. A revalorização desses legados contribui para a construção de uma narrativa cultural mais completa e inclusiva, reconhecendo a riqueza do pensamento que moldou o Brasil em diferentes períodos.
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