Ada Prospero Gobetti, nascida em 23 de julho de 1902 em Turim, Piemonte, Itália, foi escritora, intelectual, educadora e política. Vivenciou as duas Grandes Guerras Mundiais, engajando-se, principalmente, durante o segundo conflito, no qual desempenhou um papel importante na Resistenza italiana.
Sua obra, de uma densidade intelectual grandiosa, abrange livros didáticos, análises literárias e obras infantojuvenis, como o bastante divulgado na Europa Storia del Gallo Sebastiano. Ada contribuiu para diversas revistas ao longo de sua vida e deixou um legado literário substancial, notadamente com seu livro Diario Partigiano (1956), uma obra fundamental para compreender a Resistenza italiana.
A correspondência entre Ada e seu primeiro marido, Piero Gobetti (1901-1926), intitulada Nella tua Breve Esistenza. Lettere 1918-1926, revela uma história de amor e documenta o desenvolvimento intelectual e humano de Ada. Desde o início do século XX, suas cartas abordam questões como a liberdade feminina e o antipatriarcalismo.
O contexto histórico de perseguições pelo regime fascista surge fortemente na vida de Ada quando, em 1926, seu marido é espancado por defensores de Mussolini e falece em Paris dias depois. Ela, agora viúva e mãe, retorna à Itália e mergulha na Resistenza, contribuindo ativamente com o movimento antifascista. Ela escreveu panfletos, participou de guerrilhas e assumiu papéis de comando e organização.
Ada foi reconhecida após a guerra pela República Italiana, recebendo a Medalha de Prata de mérito militar e uma patente condizente com sua atuação na Resistenza. Sua dedicação à resistência não foi apenas militar; ela defendeu ideais democráticos, direitos das mulheres e educação democrática pelo resto de sua vida.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Ada Gobetti continuou a luta por uma sociedade mais justa, envolvendo-se em movimentos políticos e defendendo os direitos das mulheres. Sua vida de resistência, intrinsecamente ligada à história italiana do século XX, é um testemunho de coragem, intelecto e dedicação à liberdade.
Ada Gobetti faleceu em 14 de março de 1968 em Turim.
No dia 10 de março de 1980, o Ministério da Defesa da República da Itália emitiu um documento concedendo à escritora a Medalha de Prata de Valor Militar, destacando sua participação na Resistenza com as seguintes palavras:
Enviada à França em uma missão delicada para o comando aliado, não hesitou em enfrentar uma travessia traiçoeira dos Alpes a uma altitude de mais de três mil metros, que durou mais de três dias.
Ela teve sucesso, com sua habilidade única de escalar os Alpes e desconsideração pelo perigo, em fugir da perseguição do inimigo e levar em segurança os documentos que lhe foram confiados.
Para a maioria dos italianos, a palavra Resistenza se refere especificamente à luta pela libertação da Itália da ocupação alemã, um período de vinte meses que começou em setembro de 1943 e terminou em abril de 1945. Para Ada Gobetti, Resistenza é a armada durante a guerra e qualquer ação contra a obstrução da liberdade, a limitação dos direitos humanos ou a restrição do conhecimento imposta por um poder político.
A experiência da Resistenza é narrada no Diário Partigiano (1956).
Ada Gobetti nasceu e se formou no coração da antiga Turim. Ela habitava na via XX Settembre, frequentou a escola Pacchiotti e o Liceu Balbo, graduando-se em junho de 1925 na Faculdade de Letras e Filosofia com uma tese sobre o pragmatismo anglo-saxão. No mesmo prédio vivia Piero Gobetti, com quem ela se casaria em 11 de janeiro de 1923. Seu amor tornou-se uma parceria humana e política. Ada compartilhou com Piero o entusiasmo pelas lutas operárias e sociais em Turim em 1918-1920, escreveu para Energie Nove, a primeira revista de Gobetti e colaborou com outras publicações.
Ada retomou a atividade de professora, primeiro como substituta de filosofia no Liceu Científico de Turim, depois, a partir de 1928, como titular de cátedra de Língua e Literatura Inglesa na escola média de Bra, em Savigliano, e de 1936 a 1956 no Ginnasio Balbo de Turim. Graças ao apoio de Benedetto Croce, ela traduziu várias obras, incluindo a História da Europa de Fischer, Civitas Dei de Lionel Curtius e Tom Jones de Fielding. Em 1943, pela editora Laterza (Casa Editrice Giuseppe Laterza & Figli), uma das maiores editoras da Itália, fundada em 1901, publicou um livro sobre Alexander Pope.
Em junho de 1937, Ada se casou com o amigo Ettore Marchesini, que permaneceria ao seu lado até o final. A partir da entrada da Itália na guerra em junho de 1940, ela se empenhou mais vigorosamente na atividade antifascista clandestina: aderiu à Giustizia e Libertà; foi uma das fundadoras do Partito d'Azione; participou diretamente da luta armada, inclusive em missões perigosas, como quando no inverno de 1944-1945 atravessou o Passo dell'Orso e o Colle Sommelier com uma coluna de partidários para entrar em contato com os aliados e os movimentos femininos da França libertada; foi uma das promotoras dos Gruppi di difesa della donna.
O ativismo partidário se estende ao ativismo político: após a Libertação, foi nomeada vice-prefeita da Junta Municipal de Turim; foi eleita para o Conselho Nacional da ANPI e da UDI, tornando-se presidente; em 1945, em Paris, participou da fundação da Federação Democrática Internacional Feminina; em julho de 1947, foi a Londres para um encontro internacional da Liga dos Direitos Humanos (onde um acidente de carro causou uma concussão cerebral que ela conseguiu superar após uma longa convalescença); em outubro de 1954, liderou uma delegação de mães em Roma para protestar contra o uso da guerra atômica na Coreia; em 1956 participou da Conferência de Bandung.
Ada encontrou na escrita uma forma de expressão autêntica e profunda: publicou mais de trinta livros, traduziu, colaborou em revistas e jornais, deu palestras na Rádio e na televisão. Ela também empenhou-se na atividade editorial, publicando os escritos de Piero e sua correspondência com Giuseppe Antonio Borgese.
Ada Gobetti foi uma mulher de coragem e dedicação cujas ações e histórias humanitárias e antifascistas merecem grandes homenagens. É extremamente lamentável que não tenhamos edições de suas obras em português.
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