Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, da "Folha da Noite", propôs-se a realizar uma reportagem sobre uma favela em crescimento no bairro do Canindé, em São Paulo, próxima ao centro da cidade. Os jornais "Folha da Manhã", "Folha da Tarde" e "Folha da Noite" se uniriam em 1960 sob um só título, Folha de S.Paulo.
Três dias mais tarde, Audálio retornou à redação do jornal com três cadernos encardidos repletos de anotações. Os cadernos não lhe pertenciam, mas a uma moradora da favela chamada Carolina Maria de Jesus, de 44 anos.
Audálio encontrava-se na favela quando ouviu uma mulher repreender alguns rapazes que não permitiam que crianças brincassem no parque instalado na favela: "Vou botar o nome de vocês no meu livro!". O jornalista procurou por ela para saber mais sobre essa obra. Foi então que teve contato com os textos de Carolina.
Os cadernos continham anotações em formato de diário, contos, poesias e um início de um romance. Carolina já havia tentado publicar seus textos, no entanto ninguém lhe proporcionara oportunidade e, em muitas ocasiões, menosprezaram-na.
Em 9 de maio de 1958, a primeira reportagem sobre a autora e seus filhos, intitulada "O drama da favela escrito por uma favelada", foi publicada na "Folha da Manhã". Uma segunda reportagem elaborada por Audálio apareceu em 1959, na revista "O Cruzeiro", apresentando novos trechos do diário. Finalmente, em agosto de 1960, o livro "Quarto de despejo" de Carolina foi lançado pela editora Francisco Alves. O título reflete uma definição que a autora deu à favela onde morava: "O quarto de despejo de São Paulo". A partir desse momento, Carolina tornou-se uma celebridade, atraindo a atenção de revistas e jornais estrangeiros como "Times", "Le Monde" e "Paris Match".
Carolina nasceu em 1914, em Sacramento-MG, e frequentou a escola primária por dois anos. Em 1927, mudou-se para São Paulo sozinha, trabalhando como empregada doméstica. Posteriormente, enfrentou dificuldades para encontrar emprego, sobrevivendo coletando e vendendo papéis. Ela teve três filhos: João José, José Carlos e Vera Eunice. A autora faleceu em 1977.
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