segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

QUANDO GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ SOUBE DA MORTE DE ERNEST HEMINGWAY

Ernest Hemingway (1899-1961) é ainda hoje um dos escritores estadunidenses mais celebrados, analisados e lidos. Foi ganhador do Prêmio Pulitzer de Ficção (1953) e do Prêmio Nobel de Literatura  (1954), por seu "domínio da arte da narrativa, mais recentemente demonstrado em O velho e o mar, e pela influência que exerceu no estilo contemporâneo", segundo a Academia Sueca.

Em 2 de julho de 1961, aos 61 anos, o autor suicidou-se, dando fim ao sofrimento causado pela diabetes e pela depressão que o assombravam nos últimos anos de vida. O autor repetiu a ação do próprio pai, que também cometera uma morte voluntária, em 1929, quando Hemingway estava com 30 anos.

Gabriel García Márquez, celebrado autor colombiano, que viria a ganhar também de um Prêmio Nobel de Literatura em 1982, publicou em 9 de junho de 1961, sete dias após a morte do escritor norte-americano, uma crônica de título "Um homem morreu de morte natural".


Márquez revela que, na semana da morte do autor de Por quem os sinos dobram, houve discussão sobre o seu valor literário. Parece que é inerente ao ser humano dar com mais facilidade as reverências a um morto após o longo correr das areias do tempo. Na crônica, o autor de Cem anos de solidão diz que o que se discutia era se "Hemingway foi um grande escritor, e em que grau merece uma coroa de louros que a ele mesmo parecia uma simples narrativa breve, uma circunstância episódica na vida de um homem".

Para Gabo, "Hemingway não parecia pertencer à raça dos homens que se suicidam", pois, em sua obra, "o suicídio era uma covardia e seus personagens eram heroicos apenas em função da temeridade e coragem física". Ele analisa ainda que nas histórias de Ernest Hemingway, "a vitória não era destinada ao mais forte, e sim ao mais sábio, com uma sabedoria aprendida na experiência". Resta-nos saber se o final da vida do autor estadunidense aconteceu por imitar seus personagens ou por nos mostrar que suas criações eram fingimento artístico, como nos lembram os versos de Fernando Pessoa sobre o ofício do poeta (e por que não o de escritor também?): "O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente".

A crônica termina com o autor definindo a morte de Hemingway: "Provavelmente não é o fim de alguém mas o princípio de ninguém na história da literatura universal. Mas é o legado natural de um esplêndido exemplar humano, de um trabalhador bom e singularmente honrado, que talvez mereça algo mais do que um lugar na glória internacional".





Jason Lima
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Referência:
MÁRQUEZ, Gabriel García. Crônicas: 1961-1984 (Obras Jornalísticas 5). Rio de Janeiro: Record, 2019.

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