Oscar Wilde (1854-1900), escritor, poeta e dramaturgo irlandês, foi um dos mais talentosos e mais polêmicos de sua época. Suas ideias e comportamentos, em uma Europa tão conservadora do século XIX, foram alimentos para uma vida de fama, popularidade, julgamento e de perseguição. Autor do famoso romance O retrato de Dorian Gray, Wilde chegou a ser preso por ter tido "atividades homossexuais", após um julgamento célebre e revelador dos pensamentos da sociedade vitoriana.
Seus textos não raramente causavam - e ainda causam - certas inquietações intelectuais. Em um deles, chamado A decadência da mentira, publicado em 1891, um diálogo entre dois personagens, Cyril e Vyvyan - não por acaso, esses eram os nomes de seus dois filhos com Constance Lloyd, nascidos em 1885 e 1886, respectivamente -, Wilde, por meio do personagem Vyvyan (ou Viviano, como ficou conhecido em tradução brasileira por João do Rio), defende uma nova abordagem artística, porém não tão nova, pois parte da concepção de que a arte basta em si e que a sua modernização ou o seu realismo são formas de diminuir seu valor.
A sua nova estética resume-se a três fundamentos sobre os quais o autor se debruça longamente. O primeiro se resume à máxima "a Arte nunca exprime mais nada, a não ser a própria Arte". A obra artística não é um retrato da sua época, não representa o seu tempo. A arte é atemporal, indiferente aos dramas da vida; a si, a arte se basta.
Daí surge o segundo fundamento: "A Arte morre quando deixa de ser imaginativa". É a mentira artística que alimenta a arte real. A vida e a natureza não podem ser materiais apenas de transcrição, elas devem ser "transformadas em convenções artísticas". Para Viviano, a mentira artística é o grande objeto da literatura, pois "o fim do mentiroso é simplesmente encantar, fascinar, proporcionar o agrado. Ele é o verdadeiro fundamento da sociedade". E da criação imaginativa surgem as bases constitutivas da vida social.
Desse pensamento surge, por fim, o terceiro fundamento: "a Vida imita muito mais a Arte do que é imitada pela Arte". A partir da obra de arte - repleta de mentiras imaginadamente artísticas - a sociedade se vê e se comporta; é ensinada e valorizada; imita e replica os ideais publicados. Essa visão fica bem clara em obras futuristas lançadas há alguns anos - que há pouco tempo eram distópicas - e que hoje não se parecem tão futuristas assim. Mas o livro aborda obras contemporâneas do autor e revela como comportamentos são moldados por livros.
Hoje, contudo, vemos esse molde sendo diariamente fabricado por redes sociais e por modelos líquidos de heróis e heroínas. Wilde talvez repetiria sobre isso uma passagem dita na sua obra: "estão quase tornando a Humanidade vulgar".
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Referência:
WILDE, Oscar. A decadência da mentira e outros ensaios. Trad. João do Rio. Rio de Janeiro: Principis, 2020.
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