As Revoluções Burguesas, no século XVIII, deram origem a uma nova dominação de classe, substituindo a aristocracia nobre pela burguesia comercial. Mas não demorou para que essa classe emergente, inicialmente revolucionária, se consolidasse como classe dominante e se tornasse conservadora. Embora propagada como um levante em prol da liberdade universal, a Virada Burguesa não representou a ruptura total com as estruturas de poder pré-existentes. Em vez de uma genuína liberdade de castas e econômica global, a revolução instaurou uma nova ordem de dominação.
A aristocracia foi substituída por uma classe emergente, impulsionada pelo comércio e pela indústria. A burguesia, nova detentora do poder econômico e social, relegou classes menos abastadas a uma posição subalterna. As ideias iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, que se ouviam na Revolução Francesa, se distanciaram da realidade sob o domínio burguês. A busca por mudanças, antes defendida com fervor, deu lugar à preservação do status quo e à defesa dos interesses da classe dominante.
A partir da década de 1830 na Europa, essa discrepância se intensificou. A burguesia, encastelada em sua posição de poder, se distanciou cada vez mais da classe trabalhadora, o proletariado. Essa divisão gerou tensões sociais que culminaram em diversos movimentos reivindicatórios e embates históricos.
A Revolução de 1848 na França exemplifica essa dicotomia entre a burguesia conservadora e o proletariado revolucionário. Insatisfeitos com o desemprego crescente, operários e artesãos se uniram, afastando-se da burguesia. Esse afastamento refletiu uma nova realidade econômica e social, com a burguesia consolidando seu domínio e os trabalhadores buscando uma mudança.
A burguesia passou, pois, por um processo complexo e contraditório. Por um lado, sua ascensão representou um avanço em termos de organização social e econômica; por outro lado, não logrou alcançar a utopia de liberdade e igualdade inicialmente preconizada.
A ideia central da economia clássica, de que "o valor é produto do trabalho", foi cara ao pensamento burguês em sua luta contra a nobreza. Porém, para a burguesia consolidada, a máxima que associava trabalho e valor não era mais conveniente. Como ensinam José Paulo Netto e Marcelo Braz em seu livro "Economia política: uma introdução crítica", essa ideologia, então, passou a servir como estímulo à classe proletária e às ideias socialistas, tornando-se uma crítica à exploração sofrida pelo trabalhador sob o capital burguês.
O Romantismo, movimento artístico que se estendeu do século XVIII ao XIX, pode ser considerado uma expressão da burguesia. O retrato feito por essa corrente perpassa os valores burgueses em diferentes fases: desde o espírito revolucionário de liberdade e igualdade até a fase conservadora, já estabelecida no cenário mundial, com a manutenção de valores tradicionais como casamento, religião e pureza sexual. O foco do Romantismo recai sobre personagens abastados e instruídos, representando a ascensão social da burguesia.
Em contraposição, o Naturalismo, braço do Realismo, na segunda metade do século XIX, surge como uma expressão artística proletária. Influenciado pelas teorias positivistas e evolucionistas da época, retratou a realidade social com um olhar científico e determinista como a classe proletária era representada na literatura. Sua temática se concentra nos trabalhadores, nos pobres, nas aglomerações populacionais e no indivíduo em sua condição biológico-hereditária. Essa mudança de foco reflete o crescimento da classe trabalhadora, sua oposição à classe burguesa e as tensões sociais geradas pela industrialização.
Vê-se, logo, que os movimentos artísticos do romantismo e naturalismo, apesar de distintos em sua estética, compartilharam uma estreita relação com as mudanças econômico-sociais do mundo. O romantismo, nascido nos ideais revolucionários da burguesia, transmutou-se para refletir seus valores conservadores, enquanto o naturalismo surgiu como uma expressão artística do proletariado, buscando representar a realidade biológica e social das classes menos abastadas. Dessa forma, a arte, como representação social, é moldada pelas dinâmicas de poder da sociedade em que se insere.
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Referência:
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2012.
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