Maria Eugenia Vaz Ferreira (1875-1924), uma das primeiras grandes poetas uruguaias a ter seus textos publicados, foi uma figura central da generación del 900 em seu país, um período de efervescência literária que moldou a cultura e a essência artística local. Ao lado de Delmira Agustini e Juana de Ibarbourou, ela é considerada uma das principais poetas do Uruguai.
Embora não tenha publicado em vida, sua obra veio a público por meio de seu irmão, Carlos Vaz Ferreira, que compilou e publicou La isla de los cánticos após a morte da autora. Sua poesia intensa e reflexiva centra-se na metafísica, na morte, na solidão e na busca pelo sentido da existência, frequentemente apresentados em um contexto onírico.
Em 1903, Maria Eugenia Vaz Ferreira selecionou cinquenta e um poemas para sua coleção Fuego y Mármol, mas o livro nunca chegou a ser publicado, talvez devido à aversão da autora a certos aspectos da publicidade. Foi somente em 1924, quando sua saúde estava debilitada, que ela escolheu quarenta poemas para La isla de los cánticos. A tragédia recaiu sobre a poeta, e ela faleceu antes que o manuscrito final pudesse ser preparado.
A publicação póstuma de La isla de los cánticos em 1925, conforme a visão de Carlos Vaz Ferreira, marcou o início da preservação do legado literário de Maria Eugenia. A obra permaneceu praticamente desconhecida até 1959, um ano após a morte de Carlos Vaz, quando Emilio Oribe, poeta e filósofo uruguaio, recuperou manuscritos inéditos e publicou La otra isla de los cánticos, adicionando setenta e um poemas não presentes no primeiro livro.
Em 1976, Rubinstein Moreira publicou Aproximación a María Eugenia Vaz Ferreira, uma obra que propõe uma biografia e análises de seus textos.
Hugo J. Verani, em 1986, desempenhou um papel crucial na reabilitação da poesia de Vaz Ferreira ao publicar uma edição anotada de suas coletâneas. Essa edição incluiu 87 poemas previamente não publicados, muitos dos quais Verani rastreou em jornais uruguaios do final do século XIX e início do século XX, além de fragmentos poéticos e composições destinadas a familiares e amigos.
Verani destacou a importância de Maria Eugênia Vaz Ferreira como a primeira mulher uruguaia com uma voz lírica inconfundível. Ele reconhece sua contribuição pioneira ao tematizar as angústias femininas e introduzir o amor como tema literário, prenunciando o lirismo sensual de outras poetisas notáveis, como Delmira Agustini e Juana de Ibarbourou.
O ambiente literário da época, marcado por supressões e preconceitos, pode ter contribuído para os desafios enfrentados por Maria Eugênia. Delmira Agustini, amiga próxima, expressou indignação em relação à demora na publicação dos manuscritos, atribuindo-a a críticas e desaprovação infundadas. A atmosfera de repressão pode ter contribuído para os colapsos mentais de Vaz Ferreira, levando à especulação sobre quem ou o que teria infligido as "derrotas diárias das decepções".
Uma perspectiva intrigante envolve a relação entre Maria Eugênia Vaz Ferreira e seu irmão, Carlos Vaz Ferreira, o qual sustentava que a verdadeira realização feminina residia na maternidade e no casamento. A independência e a sensualidade expressas na poesia de sua irmã poderiam ter sido vistas como desafios a essa filosofia. A não publicação ativa da poesia de Maria Eugênia durante a vida de Carlos sugere a possibilidade de um conflito de visões.
A crítica literária, historicamente negligente em relação a Maria Eugênia Vaz Ferreira, começou a reconhecer sua importância décadas após sua morte. Em 2007, a Modern Language Association of America publicou uma antologia de modernismo hispano-americano em tradução para o inglês, incluindo três poemas de Vaz Ferreira. Essa iniciativa, embora com traduções imperfeitas, contribuiu para apresentar a poesia da autora a um público mais amplo.
A falta de datas em seus poemas complicou a ordenação cronológica de sua obra, mas uma abordagem temática proposta por Arturo Sergio Visca revela quatro séries principais: poemas de amor, angústia, transição e aceitação metafísica.
Portanto, diante do que vimos, Maria Eugênia Vaz Ferreira, uma precursora na expressão literária feminina, merece sem dúvidas uma apreciação mais condizente com a sua importância. Infelizmente, não temos edições em português de sua obra.
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