segunda-feira, 4 de março de 2024

A MAIOR OBRA JÁ PUBLICADA

Em 2023, o professor espanhol de filosofia Jesús Millán Muñoz (1957) - cujo pseudônimo literário é J. M. M. Caminero - apresentou ao mundo uma obra monumental intitulada Cuadernos de la Mancha (romance filosófico e pictórico, segundo o autor) ou Cuadernos o Soliloquios. Esse projeto gigantesco em espanhol abrange uma rica variedade de gêneros, incluindo literatura, ensaio, filosofia, pintura, fotografia, videoarte e documentação. 

Jesús Millán Muñoz

A obra é composta por 50 volumes, totalizando cerca de 50.000 páginas e impressionantes 22 milhões de palavras. Esta dimensão destaca a grandiosidade dessa criação. Cuadernos se destaca como a mais imponente em termos de quantidade de palavras escritas por um único autor. Além dos escritos, o autor incorpora artigos jornalísticos, tuítes (aforismos), quadrinhos e fragmentos do Facebook.

Dentro dessa obra, destaca-se a Epopeia Filosófica, uma composição de cerca de 65.000 versos, divididos em 32 partes. Há ainda aproximadamente 350 conversas filosóficas gravadas em áudio ou vídeo, totalizando cerca de cem horas de gravação. A obra contém também uma coleção impressionante de oitenta mil desenhos, pinturas e páginas de livros de artista, muitas das quais estão em coleções públicas e privadas, como La Biblia del Monasterio de Silos e Códice del Nuevo Testamento de Victorina, que figuram entre os maiores do mundo em termos de tamanho. Uma outra parte abrange algumas centenas de fotos documentais e artísticas, bem como gravações de videoarte.

Para compreender a complexidade dessa obra, é fundamental, portanto, abordá-la como hipertextual, pluriduscursiva e multiautoral, uma tessitura que conecta palavras, imagens, ideias e experiências, proporcionando aos leitores um comando sobre a viagem textual a que se destina. 

Abaixo coloco, em tradução livre feita por mim, um artigo - entre centenas produzidos pelo professor (e também chargista) Jesús Millán Muñoz - que fala sobre a produção intelectual e a sua catalogação. Um pouco do pensamento do homem por trás dos Cuadernos de la Mancha.


Produzir ou Catalogar

Jesús Millán Muñoz

Todo autor, seja qual for a disciplina, enfrenta o dilema que, resumidamente, é: ou você produz ou cataloga. Dirão que o ideal é fazer ambas as coisas.

Mas a realidade é mais complexa, seja em matemática, filosofia, teologia, fotografia, design, literatura, artes plásticas, é necessário ter pelo menos as seguintes perspectivas ou horizontes, em ordem: ler e observar; pensar e analisar; produzir no gênero ou no conhecimento específico; divulgar ou publicar; catalogar ou preservar ou numerar.

Se adicionarmos a isso que todo ser humano tem necessidades biológicas, de se alimentar, dormir e descansar, além de outras realidades sociais, geralmente desenvolver um trabalho remunerado, que muitas vezes não coincide totalmente com a produção ou o conhecimento ao qual se dedica ou a arte, sem esquecer que a família exige tempo e dedicação, e mais circunstâncias sociais, além de cuidar minimamente de si mesmo, e tudo o que a vida traz consigo.

Portanto, é impossível, no campo da produção, sem entrar em outros campos, que uma pessoa possa manter com harmonia suficiente todas as áreas da produção cultural, seja um conhecimento científico, filosófico, teológico, artístico, literário… se quisermos preservar todo esse material.

Se a sociedade, porque penso que também é dever da sociedade, quer preservar, digamos, a vasta produção de um autor ou autora, ou em um ramo do conhecimento, tem que buscar sistemas de coleta, preservação, estudo, análise, indexação, catalogação de todo esse material que as pessoas produzem. Isso vai além dos livros editados com ISBN; inclui uma infinidade de folhas, notas, esboços, ideias, sugestões, parágrafos, etc., que podem ser essenciais para o avanço dessa ciência ou arte.

Não sei se é verdade, mas li há algum tempo que os papéis ou rascunhos de Einstein, que ele deixou em cadernos e notas soltas, eram examinados e estudados por estudantes de pós-graduação, para tentar recuperar algumas ideias ou sugestões, para analisar o desenvolvimento de algumas de suas equações ou formulações. Se minha memória não me falha, considera-se que Einstein, sozinho ou com outros autores, assinou e publicou 271 artigos científicos. Sabemos que alguns artigos mudaram a concepção do mundo, e os resultados de uns deles ainda aplicamos, não apenas na teoria, mas também na prática. Muitos dos dispositivos que usamos todos os dias, como celulares, por exemplo, não funcionariam sem algumas das derivações de algumas de suas equações ou teorias ou concepções.

O conceito de biblioteca para preservar livros, livros publicados com a legalidade vigente de cada momento, é claramente um conceito ultrapassado. É necessário, mas já existe a necessidade, em muitos campos, do conceito de Arquivo e Centros Documentais, em diferentes áreas de conhecimento, ciências, artes, literatura, que complementam a Biblioteca. Ou, mais ainda, dentro da Biblioteca, que já preserva, digamos, uma infinidade de publicações, em sentido amplo, não apenas livros em papel e material em papel, mas também áudios, vídeos, jogos, etc. Já se preservam todos os tipos de informações ou documentos que entram nessa categoria geral de documentos de todo tipo.

Biblioteca Nacional de España, em Madrid

Hoje, já é uma realidade, embora incipiente, que as bibliotecas começam a conservar uma infinidade de materiais, arquivos de autores em diferentes ramos, arquivos coletados com algum critério por uma pessoa, de algum aspecto da realidade. Assim, por exemplo, a BNE está coletando, conservando e arquivando centenas ou milhares de vinhetas de diferentes cartunistas da segunda metade do século vinte. Assim, dizem que as Universidades Americanas convidam seus alunos, que tiveram uma trajetória importante em um ramo, que - se desejarem - deixem papéis, documentos, cartas, fotografias, livros, manuscritos e outros materiais, formando o conceito de “legados ou subarquivos”, os quais se inserem na estrutura geral dessas bibliotecas e dessas universidades.

Às vezes, chega à minha consciência a lembrança de que em todas as cidades, com mais de uma quantidade de habitantes nos tempos de Roma, existia pelo menos uma biblioteca pública, além das privadas. Em algumas cidades, bibliotecas com milhares ou dezenas de milhares de manuscritos. Não me refiro apenas à famosa de Alexandria, mas a todas que estavam espalhadas pela República ou pelo Império. Até mesmo em algumas termas públicas também. E quase tudo se perdeu. Acredito que as bibliotecas, que conservam tudo, os Arquivos Documentais Culturais e os Centros Documentais Culturais, estão tentando fazer com que a produção cultural não se perca, que a letra pequena - isso que denominamos, cartas, manuscritos, notas, fotografias, etc. - também não se perca.

Já é tempo de todas as bibliotecas locais, municipais, provinciais e regionais do nosso país, independentemente de serem gerais ou especializadas, refletirem sobre a conservação e anexação de arquivos e centros documentais, assim como as grandes bibliotecas nacionais ou estaduais já estão fazendo. Essas bibliotecas devem começar a preservar “caixas e metros lineares” de autores, que podem não ser de primeira linha, mas que têm sido influenciados pelo sol de sua localidade e província por dez ou cinquenta anos. É hora de valorizar esses autores e preservar seu legado para as futuras gerações. Talvez, não sejam os grandes papas da cultura nacional de suas especialidades, mas são dignos que suas obras e suas “letras pequenas” sejam conservadas em seus lugares de residência e de nascimento. será que eu começarei a ver essa realidade?

Original disponível em: https://diariodigital.org/producir-o-catalogar/


Jason Lima


NÓS PRECISAMOS DO SEU APOIO!

Este blog foi pensado para podermos divulgar a língua portuguesa e as literaturas a todas as pessoas interessadas pelo tema. Por isso, contamos com doações para mantê-lo funcionando e garantir que continuemos a oferecer matérias de qualidade.
Queremos que o nosso conteúdo seja acessível para todos, e suas doações nos ajudam a manter este espaço sem a necessidade de assinaturas ou taxas.
Qualquer valor é um contributo imensurável e inestimável!
Obrigado!

Pix: 84 98165-7144
Jason Lima



Siga-nos no Instagram:


#literatura #jesusmillanmunoz #biblioteca #linguaportuguesa #emmaislinguagem #library #profjasonlima 





Nenhum comentário:

Postar um comentário